by Key Imaguire Júnior. Read more at his blog: keyimaguirejunior.wordpress.com
Provérbios são preconceitos expressos em versos. Embora exista atualmente um preconceito contra os preconceitos, os provérbios são formulações populares de ideias consolidadas, interessantes do ponto de vista linguístico e sociológico, dada sua permanência. Sua característica essencial, além da ambiguidade do common sense, que lhes aumenta a citabilidade, é o anonimato da origem. No entanto, pode-se especular terem nascido de uma frase coloquial, de uma citação literária ou mesmo uma referência bíblica: não há um “Livro dos Provérbios”, atribuído a Salomão? Foram o principal item de exportação da China, antes das quinquilharias e vírus.
A coleção a seguir foi publicada no “Diarinho” de Itajaí, em 31 de março de 2020. Acho que como post é inédita, e aqui está em homenagem aos 120 anos do nascimento da proverbial Vó Maria, em Tijucas SC. Ela era mestra em “soltar” provérbios na conversa com extrema propriedade – e só assim lhe vinham à memória: quando lhe pedi uma relação ditada, bloqueou… O jeito foi recorrer à memória dos familiares, e alguns “achamos” que de sua lavra, tal o ineditismo. Evidente que são todos anteriores à censura do “politicamente correto”.
De qualquer modo, os lusitanos são prolíficos nessas formulações, havendo registros temáticos em livros. E cabe assinalar que aqui temos um “work-in-progress”, que poderá ser acrescido à medida em que nos vierem à memória.
– Uns gostam dos olhos, outros da remela
– À mulher casada, não falta marido
– Quem sai aos seus, não sai aos estranhos
_ (variante) A fruta não cai longe da árvore
– Não é por gostar de toicinho que se carrega o porco às costas
– A quem Deus não dá filhos, o diabo dá sobrinhos
– Quem é burro, peça a Deus que o mate e ao diabo que o carregue
– Quem não tiver na cabeça, tenha nas pernas
– Fulano come sardinhas e arrota pescadas
– Quem com porco se mistura, farelo come
– Quem cabras não tem e cabritos vende, de alguma parte lhe rende
– (variante) Miguel, Miguel, nãos tens abelhas e vendes mel?!
– Lua nova trovejada, trinta dias a terra molhada
– Boa romaria faz quem em casa fica em paz
– Nunca falta um chinelo velho prá um pé cansado
– Morre o cavalo para o bem do urubu
– Onde não entra o sol, entra o médico
– Não é com toda sede que se vai ao pote
– Casamento e mortalha, no céu se talha
– Enquanto o pau vai e volta, folgam as costas
– Passarinho que come pedra sabe o cú que tem
– A merda, quanto mais se mexe, mais fede
– De pisar na merda, só se ganha o sapato sujo
– Quem não furta nem herda, tudo o que tem é merda
– Mulher que não se enfeita, a si mesma enjeita
– O que segura o pau é a casca
– Calça de veludo mas bunda de fora
– O direito do anzol é torto
– Mixo como o último peido que Adão deu no Paraíso
– Quem há de gabar o toco, senão a coruja?
– A quem muito se abaixa, o cú lhe aparece
– Arame de ouro não é prá focinho de porco
– Onde tem criança, nunca foi adulto que peidou
– Tão bom é quem faz, como quem consente
– De pato a ganso, poucas léguas avançam
– O que abunda não prejudica
– Mais vale um gosto que dez tostões
– Mesa onde nada sobrou, alguém com fome ficou
